UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES
CAMPUS VILLA LOBOS – SÃO PAULO, CAPITAL.
JACKSON RICARDO BORGES DA SILVA
DESENHOS E TATUAGENS: CÓDIGOS DA CRIMINALIDADE NA
FUNDAÇÃO CASA
São Paulo, Julho de 2012.
JACKSON RICARDO BORGES DA SILVA
DESENHOS E TATUAGENS: CÓDIGOS DA CRIMINALIDADE NA FUNDAÇÃO
CASA
Trabalho
apresentado ao Professor Orientador Isaac Vitório Correia Ferraz como um dos
requisitos de avaliação da Disciplina Métodos e Técnicas de Pesquisa na
Educação do curso de Pós Graduação em Didática e Metodologia do Ensino Superior
da UMC – Universidade Mogi das Cruzes, Campus Villa Lobos, São Paulo, Capital.
São Paulo, Julho de 2012.
1-INTRODUÇÃO
Marcas
de um crime nunca ficam restritas às pistas deixadas pelos criminosos. Informações dos delitos estão cravadas, marcadas,
tatuadas e cifradas em códigos no corpo do infrator. A classificação do apenado
é requisito fundamental para dar início à execução científica da pena privativa
de liberdade e um primeiro passo, para o tratamento dos internos da fundação
casa em sua reabilitação psicossocial é a observação atenta de suas
características e marcas pessoais.
A
junção dos variados detalhes compõe a primeira fase de conhecimento do
indivíduo cumpridor de medida no sistema sócio educativo. A partir dos anos 20,
executada por diferentes órgãos e cristalizada na “Doutrina da Situação
Irregular” consolidou-se uma prática política para a criança e o adolescente
pobre, em abandono social ou envolvido em delitos que, após o golpe militar foi
assumida integralmente pela Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM),
criada em 1964. Às Fundações Estaduais do Bem Estar do Menor (FEBEM), sob a
diretriz da FUNABEM, Cabia à prevenção ao processo de marginalização do menor
com o estabelecimento de unidades para atender carentes e abandonados, e a
Correção dos marginais em que predomina esse conceito de normalidade Social.
A Psicologia e o Serviço Social
apresentavam-se, neste contexto, como capazes de delimitar as causas dos
desvios de conduta, através do uso de testes, da análise da personalidade, da
investigação social da família e do Jovem, possibilitando ações preventivas e
de correção das mesmas. Neste sentido, estas ciências apresentavam-se como um
dos instrumentos capazes de determinar as causas do desvio do menor.
Em
função disso, a importância do conhecimento por parte dos profissionais que
atuam direta ou indiretamente com os internos como é o caso dos agentes educacionais
entre outros como medida preventiva de ações internas indesejadas e inesperadas,
também sobre o significado das tatuagens no submundo do crime. É fundamental a
importância, pois trata de uma linguagem codificada, onde se traduz os sinais
de poder, comando, subordinação, tipos de crimes, conduta, sendo prática
bastante comum e usada em todo o mundo entre os marginais, onde possuem
diversos significados e que podem expor ações. Conhecendo pontos importantes
como: o conhecimento social do preso, exame clínico, psiquiátrico, psicológico, dos
dados para obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação, observação
à individualização da execução, conhecimento da linguagem e forma de
comunicação através das “tatuagens e desenhos criminais”.
Uma análise dos signos diversos adotados
pelos internos, nos mostra um cunho todo especial, por suas tatuagens, seja por
espírito de poder, vingativo, violento, a região do corpo do tatuado forma
indícios traçando um perfil individual. Existem inúmeros símbolos e grafismos compartilhados
entre os menores cumpridores de medidas sócios educativos. Este projeto visa
conhecer um pouco mais sobre o universo dos desenhos e grafismos conhecidos
pelos adolescentes internos da fundação casa e suas motivações expressas no
papel como desabafo, reflexos de personalidade e como espaço para comunicação.
O tema é de importância, pois através dos desenhos e tatuagens pode-se entender
das simbologias e linguagens ocultas que esses adolescentes valorizam, copiam e
desenvolvem novos métodos a partir dos códigos de cadeia.
Compreender mais do contexto nos faz
entender mais do que planeja seguir no mundo do crime. Muitos desses desenhos
aparecem de maneira subliminar durante as aulas e são sujeitos a penalidades
internas. Ao agente educacional, cabe estar atento e ter o preparo para sua
atuação pontual no momento de advertir ou intervir por meio de um diálogo
direto com o autor do desenho. O símbolo ou desenho também indica a posição
ideológica do autor do ato infracional. Podem ser usados como códigos para
orientar ações futuras como, por exemplo: um código para rebelião, vingança
contra outro interno ou até mesmo uma execução. Com a popularização,
aproximação dos desenhos indeléveis, principalmente a partir da década de 1990,
quando os tatuados se livraram do estereótipo “maloqueiro”, Existem inúmeros
significados nas tatuagens dos menores infratores e adultos nas cadeias que
norteiam sua conduta criminosa e hierarquia.
As tatuagens indicam o “status” do menor
no mundo do crime. O significado de uma tatuagem de palhaço, por exemplo, varia
de acordo como ele se apresenta no desenho. Normalmente a tatuagem de palhaço é
associada a malandragem e são representados como figuras sombrias, macabras ou
armadas de facas, serras, metralhadoras, bombas, dinamite,revolveres.
Nos presídios as tatuagens de palhaço
identificam os assaltantes de bancos. “A tatuagem, uma antiga forma de
expressão corporal, é também utilizada por facções criminosas como forma de
comunicação, cuja mensagem estampada na pele, pode revelar a personalidade ou
atitudes de um marginal”.
As Tatuagens têm seus significados próprios no
mundo do crime; Âncora – simboliza
esperança, proteção e segurança. Indica a relação do usuário com o mar, sendo
feita nos braços. Borboleta – denota mudança ou anseio pela liberdade. É feita
por fugitivos, podendo também indicar homossexualidade do individuo. Cadeado e
molho de chaves – exprimem que o apenado sofre martírios no mundo do
cárcere. Caravela – significa liberdade.
É feita, geralmente, na altura. Do coração.
•
Caveira com punhal cravado – indica assassino de policiais.
• Coração cortado por flecha – indica um homossexual passivo.
• Coração cortado por flecha, com a inscrição “amor de mãe” – indica que seus usuários são homossexuais e cometeram crimes contra os costumes.
• Coração cortado por flecha – indica um homossexual passivo.
• Coração cortado por flecha, com a inscrição “amor de mãe” – indica que seus usuários são homossexuais e cometeram crimes contra os costumes.
Atualmente,
não tem mais esse significado. É feita nos braços e no peito.
• Cruz de carvalho – denota tratar-se de um indivíduo de alta periculosidade. É feita nos ombros e nos braços. • Espada – quando tem mais de 15 cm indica a valentia do apenado. • Espada de São Jorge – é feita para exprimir que seu usuário é protegido por Ogum.
• Cruz de carvalho – denota tratar-se de um indivíduo de alta periculosidade. É feita nos ombros e nos braços. • Espada – quando tem mais de 15 cm indica a valentia do apenado. • Espada de São Jorge – é feita para exprimir que seu usuário é protegido por Ogum.
Desenhada invariavelmente na
perna esquerda.
• Espadas cruzadas – também simboliza a proteção de Ogum e é impressa na perna esquerda.
• Espadas cruzadas – também simboliza a proteção de Ogum e é impressa na perna esquerda.
• Estrela (Rosa-dos-Ventos) – significa a
liberdade e um amuleto para evitar novas detenções prisões. • Estrela de
Salomão – indica que o usuário está livre de sortilégios.
•
Letras – significa recordação do nome de alguma pessoa (mulher, família, amiga).
É aplicada nos braços.
• Mulher – representa mulheres ligadas ao
detento (esposas, amantes, mães, filhas, etc.). • Nomes, versos ou dizeres –
simbolizam grande e sincera amizade.
•
Nossa Senhora Aparecida – Quando aplicada nas costas ou no peito, em tamanho
pequeno, significa proteção e esperança.
Em
tamanho grande, acima da metade e no centro das costas indica o detento que foi
estuprado no cárcere. Pode simbolizar também o estuprador, o homicida e o
ladrão.
•
Pintas na lateral do rosto – indicam a homossexualidade passiva do apenado.
•
Pistola – indica o indivíduo praticante de assalto seguido de morte. É aplicada
na perna.
Pontos
na mão entre o polegar e indicador:
• (Um ponto) – punguista (batedor de carteira). • (Dois pontos). – estupro.
• (Três pontos) em forma de triângulo – viciado ou traficante de drogas.
• (Quatro pontos em forma de quadrado) – furto. • (Cinco pontos em forma de cruz ) – roubo; um ponto em cada ponta de uma estrela (cinco pontas); homicídio.
• Cinco pontos dentro de um círculo e quatro pontos fora – chefe de quadrilha.
• Nove pontos em forma de cruz – homicida ou chefe de quadrilha.símbolos e inscrições ligadas ao crime continuam manifestados desta forma.
• (Um ponto) – punguista (batedor de carteira). • (Dois pontos). – estupro.
• (Três pontos) em forma de triângulo – viciado ou traficante de drogas.
• (Quatro pontos em forma de quadrado) – furto. • (Cinco pontos em forma de cruz ) – roubo; um ponto em cada ponta de uma estrela (cinco pontas); homicídio.
• Cinco pontos dentro de um círculo e quatro pontos fora – chefe de quadrilha.
• Nove pontos em forma de cruz – homicida ou chefe de quadrilha.símbolos e inscrições ligadas ao crime continuam manifestados desta forma.
2-OBJETIVOS
Demonstrar a relação das tatuagens com o
perfil criminoso do adolescente infrator cumpridor de medida sócio educativa e
revelar códigos subliminares
de cadeia nos desenhos informais dos internos.
2. 1
Objetivo Específico:
Analisar
o quanto as tatuagens influenciam na personalidade e postura individual, também
na hierarquia de grupo e elucidar os desenhos como códigos nas ações internas e
na vida do crime.
3-JUSTIFICATIVA
Conhecer
do significado de cada tatuagem nesse contexto de trabalho é de grande importância para a investigação da
natureza, personalidade e psicossocial do indivíduo, auxiliando os
profissionais das áreas de segurança pública, agentes educacionais e os demais
técnicos da equipe de atendimento psicológico no reconhecimento do menor,
entendimento do seu perfil e
principalmente no combate ao crime. Ser tatuado é um caminho de
construção da subjetividade de inscrever nos corpos algo que diferencia e
identifica. Em diversos segmentos da sociedade, uma tatuagem é associada a
alguma tribo, como também representa o tipo da personalidade do indivíduo, e
através dos estilos é possível perceber o comportamento de certas pessoas em
relação à sociedade. Em muitos casos a tatuagem é uma atitude que funciona como
auto-identificação, servindo como uma bandeira que simboliza adesão a um
determinado grupo social, como uma vestimenta específica, pois se uma pessoa
tatua uma suástica, símbolo do nazismo de Hitler, é óbvio que ela possui alguma
simpatia por movimentos antissemita.
A princípio, esse é o sentido geral. Mas aqui
interessa compreender o tipo de subjetividade que atualmente se está forjando
por meio dessa prática corporal que, como vimos, tem variado nos distintos
contextos sociais. Nos ambientes carcerários, por exemplo, a tatuagem reforça a
condição de marginalidade dos indivíduos. “A tatuagem, uma antiga forma de
expressão corporal, é também utilizada por facções criminosas como forma de
comunicação, cuja mensagem estampada na pele, pode revelar a personalidade ou atitudes
de um marginal”. Na fundação casa Osasco, não diferente de muitas instituições
espalhadas pelo Brasil, onde existem adolescentes de 13 à 18 anos, internos que
cometeram delitos, alguns destes tatuados com figuras características que
representam um contexto no mundo do crime. As imagens delatam traços da
personalidade do criminoso, cada uma possui um significado específico. Só quem
vive no presídio ou no meio marginal flagra as informações fornecidas pelas
tatuagens, que mostram quais as especialidades do preso no mundo do crime pois
elas mostraram-se uma forma de comunicação entre os presos, às imagens e seus
significados, desde uma ode à amada (figura de uma mulher acompanhada do nome),
passando pela religião (imagem de Nossa Senhora) até a identificação do crime
(caveira apunhalada), ou ainda, (um pênis tatuado à força nas costas ou nas
nádegas do presidiário que cometeu um estupro), ou ainda (uma pinta marcada no
rosto), marca muito usada nos meios prisionais atualmente.
Diariamente os adolescentes têm uma jornada
pedagógica que os mantém ocupados. Eles acordam às 5h e 30min e vão dormir
todos os dias às 22h. Durante esse período são realizadas várias atividades.
Eles têm o ensino formal à escola vinculada do estado e têm aulas das 7h e
30min até às 12h. São divididos em séries de acordo com o grau de escolaridade.
Há uma diferença gigantesca entre o
modelo FEBEM e o modelo de gestão compartilhada da ONG onde prestei o serviço
de agente educador, pois não houve a mudança somente do nome, mas a estrutura,
a planta do prédio foi modificada, os equipamentos e todo suporte para que um
trabalho pedagógico seja desenvolvido. Torcemos para que a gestão compartilhada
se transforme numa política pública de atendimento ao adolescente infrator
porque até agora é uma política de governo, percebi que o interesse
motivacional é fazer com que esse mecanismo se consolide numa medida pública de
atendimento independente do governo que estará à frente do estado, pois esse
modelo compartilhado possui bons antecedentes e resultados.
O espaço sócio-educativo, como é conhecido o
interior da unidade, hoje demonstra a mudança e a quebra de paradigma. Se não
fossem as grades, obviamente não teríamos a impressão de estar em uma unidade
de internação. Muitas escolas estaduais em nosso município não oferecem as
mesmas condições da Fundação. Vemos que a unidade tem buscado seus objetivos na
medida em que a mudança de conceito e o estigma pouco a pouco estão sendo
substituídos por uma nova realidade.
4-METODOLOGIA
Para o levantamento de dados, aplicou-se um
questionário junto aos menores infratores da casa (1) para uma avaliação
qualitativa e quantitativa para esclarecimentos sobre o tema e sua relação com
o dia a dia, porém fica claro numa conversa informal que nem sempre respondem
tudo e procuram ser breves em algumas
respostas, se abrem quando tem a
confiança de comentar . Durante o
período questionei muitas coisas relacionadas, sempre com perguntas informais e
descontraídas. Foram escolhidos adolescentes que cumprem a medida sócia
educativa em contextos diferentes de acusação e pena, com períodos diferentes
de permanência na unidade. Alguns atualmente cumprem pena em regime de
liberdade assistida ou já conquistaram a liberdade. Realizou-se a entrevista
com os adolescentes infratores do sexo masculino que cumpriram pena
inicialmente em regime fechado na UI – Unidade de internação, também com
adolescentes da UIP – Unidade de internação provisória da casa (1).
Constatou-se que dos 45 entrevistados, possuidores de tatuagens, a maioria, ou
seja, 60% alegaram que tem conhecimento do significado das tatuagens, mas, não
gostam de comentar sobre as mesmas; 70% fizeram a tatuagem no período em que
estavam livres e hoje se sentem discriminados.
5-CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O presente trabalho resume-se no
conhecimento de todos os dados preliminares do menor cumpridor de medida sócia
educativa, quando este adentra nas unidades de atendimento da fundação casa. É
neste momento em que a personalidade do preso deve ser avaliada, levando em
consideração os sinais que se eternizam na pele, pois indicam os segredos do
mundo criminoso que se formam dentro e fora das prisões. Dá-se início, desta
forma, ao trabalho de classificação do menor apenado, para que a partir de todas
as informações obtidas, inclusive das formas de comunicações, seja iniciada a
individualização da execução da pena. Através deste estudo, será possível o
reconhecimento de certas atitudes ou condutas que refletem a imagem do próprio
indivíduo. Pode assim, ser estudado com extremo rigor todo o conjunto, com
possibilidade de serem acompanhados, convenientemente os caracteres indicadores
da personalidade do menor delinquente. Tais aspectos servirão de instrumento
para se atingir conclusões diagnósticas, prognósticas e terapêuticas, buscando
o tratamento individualizado. As tatuagens possuem significados dentro e fora
das prisões e dos locais de cumprimento
de medidas sócio educativas, é uma forma de linguagem e seus códigos também
podem ser expressos em muros e paredes de forma sutil com intenções muito
claras.
É um meio de comunicação onde se verifica
a verdadeira extensão e o papel de cada possuidor da marca, muitas vezes
forçado a carregar o sinal na sua própria pele. Unidades como a fundação casa, antiga
FEBEM – Fundação do bem estar do menor deve ser preconizado como local onde a
medida deve ser cumprida, com o rigor que a própria condenação determina, e sem
as regalias que o dinheiro compra, visando a integração social do apenado.
Motivo pelo qual, faz-se necessário profundo conhecimento das formas de
expressão e comunicação dos internos, inclusive o desenho e as marcas que
possuem. Sendo necessária pesquisa científica e prática, para que ocorra um
verdadeiro controle do sistema penitenciário brasileiro. O servidor
penitenciário tem o dever de entender das linguagens entre os presos, muitas
vezes ocultas, através de sinais manuais, desenhos, sonoros, por palavras codificadas,
marcas no ambiente ou no próprio corpo.
6-REFERÊNCIAS
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SUPERINTERESSANTE. Assunto principal: tatuagem. 159. Ed. 00/12/2000.
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